segunda-feira, 30 de maio de 2016

O lado B de Britney - A história de Mona Lisa

     Muitos são os sentimentos quando se fala de Britney Spears. O ícone que está há duas décadas trazendo novos hits e redefinindo a sonoridade pop gera controvérsia até hoje. Muita gente não acompanhou tão de perto, conhece as músicas antigas e o que veio na fase ''pós-surto'', e tem uma vaga noção de tudo. O que foi ''o surto''? Ela não é mais a mesma! Não dança, não canta. Quem é Mona Lisa? Playback! Fato é: Desde que sua estrela ascendeu lá na época do Clube do Mickey e ela estourou com "...Baby One More Time" anos mais tarde, Britney sempre teve carreira - e vida - incomum das demais cantoras de sua época. A gente tem costume de falar ''imagina só ter seus passos seguidos, fotografados, escancarados desde a adolescência para o mundo todo, ser seguido 24 horas por dia'' pra tentar justificar, mas não dá. Não dá pra sequer imaginar o nível de insanidade e obsessão que a mídia tomou pela figura de Britney.
     Desde que assinou com a Jive e teve seu nome e sua marca amplamente divulgados, ela foi ganhando cada vez mais força. Muitos especulavam que era um produto cuidadosamente montado num marketing pra vender. Quanto mais ela aparecia, mais se falava. Até a mídia negativa refletia positivamente. Britney era um meteoro. Até 2004 colocou todos os álbuns lançados em #1, vendia milhões. Tudo que ela tocava virava ouro. Cantou com Madonna, cantou com Michael Jackson. Artista mais jovem a ter sua estrela na calçada da fama, inúmeras conquistas e recordes. O que pode ter dado errado no meio de tanto sucesso?
     O início da fase punk de Britney Spears começou enquanto ela estava envolvida com Kevin Federline. Ela já andava estafada da carreira e da perseguição, e o novo romance só fez aumentarem as polêmicas. Depois do sucesso do In The Zone, Britney e sua gravadora começaram a ter divergências artísticas. Ela, com a língua cada vez mais afiada, queria novos estilos e músicas que batessem de frente com a mídia e escancarassem o quanto ela não dava a mínima pra tudo aquilo. Ela queria, cada vez mais, formar uma família e viver uma vida simples. Em 2006 postou em seu site oficial um trecho da música Rebellion. Nessa época já circulavam teorias sobre um suposto alter ego de Britney, que seria manifestado pela cantora quando ficava morena. Vários registros foram feitos mais tarde dela falando num sotaque britânico, e relatos de pessoas próximas confirmaram que era como se ela se passasse por outra pessoa. Mais tarde esse alter ego tomou a forma da famosa peruca rosa também.
     Enquanto o embate com os paparazzi se tornava cada vez mais monstruoso, Britney enfrentava o divórcio pouco após o nascimento do segundo filho. A pressão aumentava cada vez mais e ela se sentia cada vez mais sozinha. Passou a cair em noitadas, virou bff de Paris Hilton e as noitadas das duas eram prato cheio para os tablóides. Fizeram-na parecer irresponsável, tiraram-lhe os filhos. A pressão aumentava e ela cada vez mais sozinha. Lucky nesse momento soava até profética. Mas a verdadeira profecia viria a seguir: Mona Lisa. Em meio ao circo que se armava, Britney continuava trabalhando. Dirigiu um de seus clipes e assinou como Mona Lisa. Gravou diversas músicas para um album que intitulou de Original Doll, e, sem a permissão de sua gravadora, foi até a rádio divulgar o primeiro single de trabalho. Mona Lisa era o nome do desabafo raivoso musical.

''Senhoras e senhores eu tenho uma história para contar. É sobre Mona Lisa e como ela caiu repentinamente. Todos a conheciam muito bem e agora eu estou contando para libertá-la de sua própria maldição''.

(a música começa em 1:24, antes a entrevista na qual ela fala sobre o Original Doll)

     O tom de voz de Britney era agressivo, ela desafiava quem ouvia, soltava interjeições e afrontas. A voz, o mais crua o possível, contrastava com o instrumental sombrio e misterioso da música. Existe até mesmo uma passagem fúnebre no meio. O enterro da estrela. Fala sobre como a mesma mídia que a fez famosa, a destruiu. A ascensão e a queda. Queriam o breakdown e agora era hora de deixá-la quebrada. O projeto do album era afrontar mesmo a mídia e as cópias dela que apareciam a todo momento. A gravadora ficou furiosa, vetaram tudo relacionado a esse projeto, apesar dos protestos e do trabalho de Britney em tantas músicas como Baby Boy, State Of Grace, Let Go, Sugarfall, Pull Out e a própria Rebellion. Tempos depois quiseram calar Mona Lisa. Regravaram os vocais de Britney em tons amenos, descarregaram a raiva da música e mudaram as batidas para uma sonoridade bem pop, pra não pegar mal. Ridículos. Existe um vídeo onde os paparazzi chegam até ela e ela vai passando música por música desse trabalho. Vídeos, como existem vídeos desse período. Num deles, ela, novamente com o sotaque, ironiza os tablóides e todas as mentiras que escreviam sobre ela para vender. Gravidez, alcoolismo, drogas. Peso. Já é um saco ter que lidar com a opinião de quem tá ao nosso redor; família, amigos, dando pitaco em coisas que não lhes dizem respeito. Imagina ver isso milhares de vezes em todas as revistas e sites pela internet. Não dá.
     Outro mal se instalou na vida dela: Sam Lufti. Entrou no momento em que ela estava mais vulnerável devido a perda da guarda dos filhos e tomou controle de tudo. Britney rompeu com Larry Rudolph, seu empresário desde Baby One More Time, se afastou da família e dos poucos amigos que restaram. O abuso psicológico que esse cara fazia com ela era coisa de psicopata. Inventava coisas, fazia ela chorar, achar que estava louca. Estava ficando. Depois de muito sofrer nas mãos dele, hoje existe uma ordem judicial de restrição. Ele não pode sequer se aproximar dela. Tal medida foi tomada depois de comprovado que o ''ex-empresário'' a drogava constantemente, o que veio a causar inúmeros distúrbios e o diagnóstico de bipolaridade mais tarde. Bipolaridade, bem como depressão, é coisa séria, é doença. Precisa de tratamento, não é frescura ou necessidade de atenção.
     Britney chegou a ser retirada de casa numa maca, com direito a cobertura de helicópteros e tudo, depois de não querer devolver os filhos para Kevin numa das visitas. Foi internada, dada como louca, drogada, incapaz. Estava doente, perdendo sua sanidade pra loucura que a indústria tornou tudo aquilo. Diagnosticada como bipolar, passou a fazer tratamento e a tomar remédios fortíssimos para controlar sua ansiedade. Os efeitos eram visíveis. Em várias aparições públicas ela parecia outra pessoa. Lesada, dopada. Ela só queria uma vida normal com os filhos longe daquela insanidade toda. Raspou a cabeça como símbolo de recomeço, de estafa da situação toda, como beirada do precipício. Bateu no fotógrafo com um guarda-chuva verde. Vídeos onde ela sequer conseguia caminhar dentro de um supermercado de tantos fotógrafos com flashes NA CARA dela eram comuns. Vídeos registrando ofensas de gente que passava na rua também. Num deles, a irmã foi brigar em defesa dela. Vídeos aonde os fotógrafos vão contar que a irmã dela está grávida. Vídeos. Flashes. Vídeos. Flashes. Chega!
     A fama é uma coisa muito louca. Em proporção mundial, ainda mais. É incontrolável. É uma indústria fria e cruel que te suga e te joga no lixo feito um pedaço de papel amassado. Britney carrega sequelas irreparáveis dessa época e pra sempre será assim. Por muito menos tem gente que não resiste. Insanidade.
     Hoje, vive sob a tutela do pai. Uma medida judicial que dá a ele o controle absoluto sobre tudo na vida dela, como se ela fosse menor de idade. Foi necessária na época antes que algo irreversível acontecesse com ela. Mas, nesse caso, a tempestade e o furacão passaram antes. Hoje tem os filhos de volta, já não precisa fazer testes pra provar sua sobriedade e nem circula mais sob tantos rótulos sádicos e maldosos. As marcas da fase obscura, do olho do furacão, ficaram. Como descrito por ela mesma numa entrevista, ela já esteve nos dois extremos. Hoje, paira sob o equilíbrio de uma vida estável sem tanta exposição.
     Aos que dizem que ela não é mais a mesma de antigamente, eu digo: não é mesmo. Jamais será. Em dois anos essa mulher viveu situações tão intensamente carregadas que lhe renderam experiências terríveis de dez. A espontaneidade, recuperada parcialmente, hoje é mostrada com atitudes e passos extremamente pensados e planejados. Ela não quer correr o risco de passar perto de chegar a ter novamente a exposição de sua vida que já teve um dia. Vê-la se apresentar numa premiação para o mundo novamente em 2016, depois do massacre que sofreu por anos pela apresentação de 2007, é uma vitória inestimável a todos que gostam e torcem por ela. Britney é a prova viva de que se pode superar as situações mais tenebrosas, bizarras, da vida. Exemplo de superação hoje saudável e feliz.
     Certas coisas nunca mudam. Sempre esperam demais dela, sempre esperarão. Por mais que ela se empenhe, por melhor que execute cada um de seus trabalhos, a mídia e o público sempre estará acompanhando cada um de seus passos, prontos para apontarem e despejarem suas opiniões pessoais. Seja para o positivo ou para o negativo, quer você goste ou não dela, Britney Spears é um nome que para sempre ficará gravado na história da música.
     Mona Lisa se apresentou, contou sua história e se foi. Hoje descansa em algum canto dentro das várias personas que Britney desenvolveu.

Mona Lisa's got to fly. She's been gone.

10 comentários:

  1. Adorei o texto! Revivi várias cenas enqualto li! Parabéns!

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    1. Escrever tudo isso me fez reviver várias coisas também. Dá uma nostalgia, né? Que bom que gostou! =D

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  2. cara, eu juro que queria saber mais da britney - além do óbvio que nem sei tanto assim aliás - na real, acho ela uma personalidade muito foda e queria saber mais a história dela.
    então muito obrigada por esse post! ahahhhahah

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    1. Eu me interesso demais por ela, principalmente por essa fase ~~dark~~ pelo lado artístico mesmo na carreira. Os jogos em muitas músicas dela, acho tudo muito inteligente. Ela é foda e esse período pessoal foi de quebrar mesmo. Que bom que deu pra contar um pouco da história! hahaha
      <3

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  3. Ótimo texto! Eu tenho uma amiga bem fã dela.Eu gosto de algumas produções, mas não sou fã de carterinha.

    Uma vez vi um documentário sobre a Britney e fiquei chocada com o assédio.É verdadeiramente uma loucura.Eu definitivamente não iria aguentar, me sentiria sufocada e sem privacidade.E o pior foi quando ela perdeu a tutela dos filhos.Deve ter sido uma fase bem complicada.

    Beijos

    Poesia em Transe

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    1. Tem um documentário dela que saiu em dvd até, chama For The Record, fala sobre essa época do assédio e da loucura da mídia. Ela fala bastante coisa sobre, é bem bacana.
      Eu também não aguentaria, teria ''surtado'' bem antes que ela haha x.x

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  4. Que texto incrível.
    Amo quando vc faz isso, traz suas paixões para o Baú.
    Eu não conhecia a história dela assim, não via dessa forma, algo como vc disse de "ter ouvido falar". Estou fascinada por ela como pessoa agora.
    Você é incrível, John!
    Mil beijos ❤

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    1. Aaah, Beca! Você é incrível mesmo.
      Eu tinha um artigo sobre isso escrito há uns dois anos, mas perdi numa formatação. Só agora criei coragem pra fazer de novo... hahaha
      Fico muito feliz por saber que consegui contar um pouquinho dessa história tão cheia de coisas pra alguém. Gosto muito de conversar sobre isso hahaha
      Um beijo ♥

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  5. Que texto! Sem palavras! Sou fã da Britney desde a era Baby One More Time, lembro do dia em que minha mãe me deu a primeira revista com aquela garota linda na capa(uma foto capturada do clipe de Sometimes). Tenho marcado na memória de infância e adolescência toda o seu auge. Era intrigante o fascínio que ela causava. Assisti atentamente cada passo da sua rebelião, a cada dia que acordava, ligava o computador e corria para ler as notícias, torcendo para que ela ainda estivesse viva. Chorei com diversos vídeos publicados de uma Britney perdida, chorando por ajuda e totalmente solitária enquanto um globo hostilizava cada passo seu. Nunca iremos compreender 100% o que a Britney viu e viveu, sei que ela também atravessou muitas consequências de suas próprias escolhas errôneas, mas, sem dúvida, ela é uma grande vítima de uma indústria feroz. Seu texto descreveu perfeitamente o que entendi sobre tudo o que ela passou. Confesso que no período 2008-2011 esperava ansiosamente o grande comeback da Britney. Hoje consigo entender e apreciar exatamente o que você falou "as sequelas irreparáveis dessa época serão pra sempre", que ela não quer se esforçar para voltar ao topo do mundo, pois ela sabe o preço a pagar. Hoje me basta saber que ela está saudável, ao lado dos filhos e nos dando a honra de ainda vê-la em cima do palco e produzindo bons hits para os amantes do pop. Às vezes me pego imaginando que ela conseguirá um dia sua liberdade e viverá uma vida mais normal possível. É tudo que eu desejo a ela! Jamais teria suportado o que ela suportou, sem dúvidas uma inspiração de superação. Parabéns novamente pelo seu texto

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    1. Oi Ana Luisa,

      Fiquei muito feliz com o seu comentário! Quem é fã real sabe o impacto que tudo isso causou na gente, né? Eu também sou fã desde a era Baby One More Time e acompanhei passo a passo.

      ''ligava o computador e corria para ler as notícias, torcendo para que ela ainda estivesse viva'' esse era o EXATO sentimento que eu tinha. Corria pra ler as notícias morrendo de medo de algo pior ter acontecido. É muito bom poder ver que ela conseguiu passar por tudo isso e que hoje tem uma estrutura boa. Está próxima dos filhos de novo e em paz.
      É totalmente compreensível ela não querer mais o topo do mundo e eu concordo com ela. Acho que ela conseguiu se equilibrar bem no ponto em que está hoje. O que espero para que ela possa se libertar, enfim, é o fim da tutela do pai. Acredito que todos nós, né?
      Eu também não teria suportado o que ela suportou.
      Obrigado por dividir sua opinião e seus sentimentos comigo.

      Um beijo!

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