segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Tudo o que eu queria era ter dito sim

          Tudo o que eu queria era ter dito sim. Era ter pego a sua mão de novo e retornado pra nossa espaçonave juntos. Cê tava certo, nós nunca deveríamos tê-la deixado. Encontramos e fomos tanta destruição em terra firme que o caos que espalhamos nos arrastou separados pra terras muito distantes. E se a jornada desenfreada que daí se seguiu era pra retornarmos pra casa, porque nós simplesmente nunca conseguíamos ajudar um ao outro e entrar na nave de volta? As missões simples se tornaram cada vez mais complicadas e parecia que estávamos presos em dungeons & dragons.
          Tudo o que eu queria era conseguir acreditar. Isso tá tão mais além de querer acreditar que só então eu percebo o abismo que existe entre querer e conseguir. E durou tanto tempo a jornada solo nesse mundo desconhecido de caos com nave quebrada que já me parece comum. E que o que parece estranho é tentar consertar a nave e escapar daqui. Será que o que merecemos é esse purgatório que vive puxando nossa nave de volta e de volta, não importa quantas vezes a gente tente sair ou quantas vezes a gente desative o campo magnético? E, se, nem a lei de espaço tempo funciona de verdade aqui, tola pretensão é a nossa de achar que poderíamos sair daqui sem danos?
          Dizem que passar por essas situações nos fazem crescer, mudar, ficar mais fortes. Isso é algum tipo de regra? Afinal, essa estupidez não me serve de nada porque não só não me regenerou como me afunda cada vez mais. Transforma, mas que não necessariamente toda transformação é uma transformação positiva. Eu não sei se isso é fase, se é estado ou como chamam por aí em locais onde as leis da física seguem ordem lógica, mas o que eu sei sobre o - meu - estado no meio disso tudo é que não há perspectiva nenhuma de melhora ou de conserto da nave. É como se simplesmente não existissem as peças que preciso trocar pra deixar a nave habitável e pronta pra viagem novamente. E aí, sem ela, tudo é um eterno caminhar por entre passagens sinistras, cavernas com rastros de histórias anteriores e culturas desconhecidas. Nem mesmo as quimeras estão por perto pra tornar tudo mais suportável.
          Inicia-se então uma nova busca. Por mim, por você, pelas quimeras e pelas peças. Enquanto meu dia é sua noite, minha noite é seu dia. Enquanto estivermos em lados totalmente opostos, aprenderemos a sobreviver por nós mesmos com nenhuma garantia de sair sem machucados dos desafios que estão por vir. Porém, os mesmos são necessários para que aprendamos a lidar com coisas que ainda não conseguimos. Para, quem sabe, depois de estabilizados, com nova moradia e estabilidade emocional no planeta do caos, possamos reestruturar as fendas e abrir novos caminhos para o nosso reencontro. Encontrar as peças que faltam e arrumar a nave. E, com as portas e os procedimentos de segurança reforçados, voar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário