sábado, 5 de janeiro de 2019

Corrida do caos

          Corri contra os monstros mais insanos do meu íntimo numa aposta imbecil pela sua liberdade. Depois de inúmeras viagens entre planetas e galáxias, fomos de Éden ao planeta sombrio fantasma onde tudo parecia terminar. Terminou, enfim.
          A corrida do caos foi minha última aposta, em vão. Aposta por algo que já não estava mais em pauta de alcance. As distorções digitais e os agudos ensurdecedores parecem ter virado meu lar, porque mais perdido do que eu, só o coração que decidi trocar por um fígado extra. Sabe como é, a gente tenta levar vantagem trocando algo que estragou por algo que vai ser mais útil. E as boas brejas no tempo quente são sempre o que sustentam os de coração estragado.
          É que esses finais tem quase como regra ter algo pra embalar de trilha, pra terminar de te fincar os pés no chão. Ao decidir pela corrida é quase como se eu só quisesse sentir o vento nos cabelos uma última vez, enquanto corria por um objetivo inalcançável. Percorri loopings infinitos de ponta cabeça e eu nem gosto de altura ou dessa adrenalina. Mas não descarrilhou. Até queria. Ficar lado a lado com os maiores e mais assombrosos medos em meio a essa turbulência neon escura maluca pode ter me feito perceber por quais caminhos sombrios seguir. Ao som da corneta anunciando minha derrota, deixar o carro, detalhadamente preparado, talvez nem tenha sido a maior das perdas. E percebo isso quando vejo seu rosto se esvair ao longe, como consequência.
          O que resta é saber se, com o conhecimento dos trilhos altos e escuros, vou ficar ou se vou achar um meio de recuperar a antiga nave.

3 comentários:

  1. "porque mais perdido do que eu, só o coração que decidi trocar por um fígado extra." já dizia Jão: "e de bar em bar, me afoguei no mar e encontrei minha ressaca". Onde posso trocar meu coração por um fígado extra também, por favor?

    "Sabe como é, a gente tenta levar vantagem trocando algo que estragou por algo que vai ser mais útil. E as boas brejas no tempo quente são sempre o que sustentam os de coração estragado." EU JURO QUE ESCREVI O PARÁGRAFO DE CIMA ANTES DE LER O RESTANTE DO QUE VOCÊ TINHA ESCRITO. (sim eu escrevo meus comentários em tempo real durante a leitura)

    A gente aposta, mesmo quando já nem tem mais o que jogar, o que doar, abdicamos de pedaços nossos para consertar a nave que vai deteriorando no caminho. E quando finalmente ela se desfaz, não resta muito aqui dentro.

    É difícil regenerar.

    Dói.

    Mas como toda estrela cadente, passa. E segue. E explode em glorioso brilho.

    Permanecer no planeta sombrio fantasma não é uma opção.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. HAHAHAHA eu sei que cê escreveu antes do outro parágrafo. Eu faço isso também, daí acontece o mesmo comigo.
      E é bem isso mesmo, viu? De bar em bar. Jão é crush não é a toa né.

      Isso de apostar mesmo sem ter o que jogar. Caralho, Beca. Sinto demais você dentro do meu universo e, pela primeira vez, sentir alguém nele não me incomoda. Certamente é porque é você.

      Explode em glorioso brilho. Eu te amo demais.
      Permanecer no planeta sombrio fantasma não é uma opção. Cê tá certa ♥

      Excluir