domingo, 27 de janeiro de 2019

Rota de emergência

          Ainda tentando se acostumar com os controles e toda a modernidade da nave roubada, Bono repassava as informações dos papéis que pegou da bolsa de Vicente, tentando decifrar a localização mais específica do planeta que estava procurando. Das decodificações já feitas, havia conseguido as coordenadas exatas do Portal de Vidro mas ainda precisava descobrir como passar por ele e pra onde ir em seguida.
          Estava estressado, inquieto e com a mente sobrecarregada. Não sabia o que fazer e sentia cada vez mais urgência em responder a tonelada de perguntas que rodeava sua cabeça desde o sumiço de Mino. Tentava inutilmente respirar fundo e controlar o desespero. Largou-se no chão e começou a chorar. Apenas o som de seu choro alto e inconstante ouvia-se em meio àquele vácuo. O silêncio habitual que trazia paz em outrora, atualmente, parecia ensurdecedor. Acostumara-se com o som da voz de Mino e com sua risada contagiante. Lembrava das histórias e das aventuras compartilhadas, dos perigos e das brincadeiras. Algo não estava certo na tese de Vicente. Sentia-se mal por estar preso a isso e, ainda pior, por não conseguir priorizar o caos que havia começado quando decidiu deixar Oásis.
          Teve suas reflexões interrompidas por um estrondo vindo de dentro da nave. Levantou-se rapidamente em estado alerta e logo avistou uma barra de ferro no canto da sala. Andou cautelosamente para não fazer barulho, pegou a barra e foi pelo corredor em direção ao barulho. Passando pelos corredores em neon amarelo e azul, Bono pensava no que fazer caso houvesse um confronto com outra pessoa. Até então ele estava certo de que a nave estava totalmente vazia. Ao virar mais dois corredores, viu uma porta ao fundo com uma luz de emergência azul clara em cima e um cadeado no trinco. Aproximou-se com muito cuidado e ouviu outro estrondo. Parecia o som de algo metálico sendo derrubado no chão. Ouviu um som que não conseguia distinguir e arrepiou-se. Colou o ouvido na porta e pôde perceber que tratava-se de uma criatura não humana. Essa nave deveria ser algum tipo de nave de experiências. Certo de que estava preso com uma criatura perigosa de sabe-se lá qual planeta, achou pertinente não se fazer notar e concluir logo seu destino antes que algo mais acontecesse. Correu de volta à sala de controles e o painel piscava em amarelo uma mensagem que não entendia. Não conhecia aquele idioma, mas reconheceu o símbolo de alerta. Rapidamente pegou os papéis de Vicente e revirou as páginas até encontrar o mesmo símbolo. Estava marcado na mesma página onde falava sobre o Portal de Vidro.
          Ao olhar pelo painel frontal teve certeza. Podia ver, de longe, o que era descrito por todos como o Portal. Uma energia de excitação e urgência correu por todo o seu corpo e tudo o que se deu em seguida pareceu extremamente natural. Era como se todas as informações dos documentos de Vicente agora se encaixassem e ele soubesse como seguir adiante. Ativou os controles de segurança e testou tudo. Em seguida, modificou a velocidade da nave e partiu em direção ao espectro. Bem em frente, pôde entender, na única fração de segundo visível, o porquê do nome Portal de Vidro. Enxergou toda a imensidão que estava do outro lado antes de ser engolido por uma enorme força que sugou a nave numa velocidade inesperada.

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