sábado, 2 de fevereiro de 2019

Calmaria centrada

          Muitas versões de nós depois, você me pergunta no que foi que deu. As pessoas ao redor calam no meio da nossa confusão semi-dita e parecemos todos entrar num vortex de espaço-tempo perdido em outrora. O café cremoso e a cerveja gelada podem dizer muito, é verdade. Eu preferia só enterrar de vez tudo isso mas essa sua insistência em dizer o que já foi dito quase me irrita. Digo quase porque sei que a razão tá do seu lado e a parte de mim que grita internamente pedindo socorro a ninguém sabe que precisa disso pra descansar.
          Fico sempre impressionado com a sua leveza e habilidade de minimizar todo e qualquer problema. É que eu to tão acostumado a ter (e ser) reviravolta e furacão o tempo todo que não sei lidar com a calmaria e a segurança. Perdi a conta de quantas vezes peguei toda a segurança que existia em portos seguros e joguei fora. Sabotei, destruí. Eu sou destruição pura disfarçada em calmaria centrada.
          Toda a nossa loucura me faz pensar em que ponto eu simplesmente estacionei enquanto você foi. Cê se nega a concordar, mas me ajuda a entender de forma mais clara as dimensões de diferença entre a gente e entre mim mesmo. É bom demais perceber o quanto se cresceu, mas é um tanto perturbador perceber o quanto não se cresceu em certos aspectos. Os paralelos me são muito intrigantes e, por ora, fico muito feliz por me serem interessantes de novo. Percebo que por baixo de tudo tem um mundo que eu destruí em você e em mim. E essa obsessão ardente me faz dançar um romance ruim enquanto responde as minhas perguntas.
          Se tudo der errado no fim, a gente pelo menos escreve um livro pra virar best seller e ficar rico com isso tudo.

2 comentários:

  1. "É que eu to tão acostumado a ter (e ser) reviravolta e furacão o tempo todo que não sei lidar com a calmaria e a segurança. [...] Eu sou destruição pura disfarçada em calmaria centrada."
    antes de qualquer coisa,
    como você pode me escrever tão bem nos seus versos??????????

    "E essa obsessão ardente me faz dançar um romance ruim enquanto responde as minhas perguntas."

    A gente ama romances fadados a ruína ou ao menos amaldiçoados pelo passado que pesa. A sina poética é por drama e amor a flor da pele digno de livros e reviravoltas (metafóricas e literais) chocantes, e isso nos atrai como os imãs gigantes dos cartoons dos anos 90.

    calmaria só existe porque um dia houve tempestades. sem antagonismo, é apenas normalidade.

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    1. A gente se descreve demais nos versos um do outro. Faz parte da nossa conexão interestelar.

      Eu não poderia descrever de melhor maneira a nossa sina poética. E amei a alusão ao imã dos cartoons.

      É apenas normalidade. É isto.
      Você é incrível.

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