sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Eu vou deixar pra outro dia

          Eu acho engraçado como é desproporcional o quanto te escrevo agora. Me lembro de quando eu queria escrever e escrever e nada vinha. Acho que, depois de tudo de bom que você me deu, quando já não dava pra dar mais nada, você me deu isso. Uma viajante de beira de estrada uma vez me disse que funcionamos melhor de coração partido. Os poetas fajutos viciados em café e sentimentos. Percebo que mesmo depois de tanto caminho percorrido, ainda sou demais. Sinto demais. Eu não sei o que fazer com meus excessos e por vezes acho que são o que fazem as pessoas ao redor pegarem fogo. No fim do dia eu fico aqui ouvindo essas músicas que só me prometem coisas que nunca vou ter. Mas será que a gente percebe quando tem?

          Ainda uso o óculos verde, mas por vezes consigo tirá-lo e voltar pro clássico azul. Às vezes dura muito, às vezes dura pouco. Mas já é um avanço. Tenho vontade de pegar as mesmas estradas algumas vezes. Rever velhos e bons amigos. Eu poderia realmente contar com a garota das tranças azuis. Uma tarde despretensiosa de besteiras ditas, uma caminhada ou, de repente, um filme pra gente falar mal depois. A verdade é que já não sei mais onde quero chegar. Me desprendi de mim e os fragmentos que restaram vez ou outra me fazem lembrar do que eu costumava gostar. E se a gente simplesmente muda? Mas, se muda, muda pra onde? Eu tenho a plena certeza de que não estou nem na origem e nem no destino.

          Os poemas e as músicas são tão cretinos que começo falando sobre você e divago sobre a minha existência e mudança. A galáctica de cabelo rosa tinha razão desde a primeira vez que me disse; não é você, sou eu. Muito além do clichê vazio que a gente costuma ouvir por aí em toda esquina nas realidades forçadamente cruzadas.

          Que os seus textos e músicas existem por sua causa, mas também por minha. Por causa de um espaço-tempo incrivelmente compartilhado de um momento enquanto eu ainda era um alguém que já não sou mais hoje. Que as coisas mudam, andam, voltam. Mas não os seus textos ou isso que você me deu. Tanto pro bom quanto pro ruim. Talvez o que eu tenha que fazer é aposentar os óculos verdes e juntar os fragmentos em algo novo. Mas isso eu vou deixar pra outro dia.

Um comentário:

  1. Eu acho que é bem isso o que tu disse mesmo, nós produzimos mais quando estamos tristes. Vem inspiração até de onde não imaginamos que possa vim. Infelizmente os melhores textos são criados na tristeza ou com a tristeza.
    Beijos

    Mundo de Nati

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