O amor é um jogo de azar

          É que esse café já nem tem mais gosto de café. Ou, na real, eu acho que nem me lembro mais de como é o gosto do café. Tudo o que sobrou foi essa sensação constante de gastrite pegando fogo vinte e quatro horas por dia. Evito os mesmos lugares e evito cruzar os olhares. Fico aqui fingindo que to ganhando esse jogo estúpido comigo mesmo enquanto sei que, na realidade, o amor é um jogo de azar. Uma vez me disseram que, eventualmente, todo mundo vai perder. Bati pé, vociferei em cima daquela mentira e que a realidade era diferente, a sua sorte é você quem faz. Você pode até fazer a sua sorte, mas você aprende que a sua sorte é o azar do outro. E que enquanto a sua sorte for, também, a sorte de quem te dá sorte, tá tudo bem. O real problema é quando isso muda. E muda.
       Quando você é jogado dentro do quarto vazio com nenhuma outra companhia além da sua própria, aquele silêncio parece ser o mais alto e ensurdecedor já ouvido antes. Sua presença parece estar por toda parte. Bem como suas risadas, suas roupas e seu cheiro. No transformar das sombras, também seus gritos e inconstâncias. Enlouqueço-me em minha própria companhia e esse quarto e sala na meia luz já não me serve mais.
          Tomo minha nova força advinda de qualquer coisa, menos você. Infelizmente, qualquer coisa, menos eu. Esse talvez seja o maior erro atual de todos. Mas já existem tantos outros inúmeros erros não tão atuais assim que nem consigo me importar mais. Pra onde vago, por onde volto ou com quem vou. Me perdi de mim há muito e muito provavelmente enquanto a sorte ainda era sorte. Talvez fosse a lenta transformação que só se percebe depois de completada azar.
          Não atribuo o destino ou as escolhas dos caminhos individuais a sorte e azar, são apenas mais algumas das minhas metáforas inúteis. Vazios, como essas associações estúpidas, seguem-se os dias.