domingo, 28 de maio de 2023

track number 17

          Hoje minha caixinha de música francesa ecoou tão alto que eu finalmente escutei. Em cada parte de mim senti o estrondo e pude finalmente chorar. Por tudo que tá contido, por tudo o que eu quero e o que eu não quero. Também por tudo o que já quis. 
          Caminhar por essas trilhas era exatamente o que eu fazia enquanto ela cantava sobre a explosão de luzes e o apagão do mundo com o toque das nossas peles sob a meia luz. Hoje, revisitando esse estrondo estando em um lugar diferente, faço um paralelo entre o ápice que ela representava e o que sinto hoje. Percebo que o que busco é essa liberdade e conforto de ser. Misturada a excitação da descoberta de algo novo, isso hoje tem nome e sobrenome. Mas tem também a barreira de segurança.
          Quando vou finalmente ligar esse botãozinho também?

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Meu cinema particular

           A lua desaparece e revela quem é star do meu cinema particular. Já há algum tempo em que é prioridade, mas essa escalada tão sutil percebe-se agora fundamental. Já não me vejo não te vendo, não te querendo, não te tocando. É uma vontade que não passa. Parece que tudo indica essa direção. Parece que eu gosto quando aparece no meu sonho bom. Mas me pergunto constantemente se essa maldição de já acordar com o seu nome martelando na minha mente é unilateral ou não. Temo que sim e isso me priva. De tanto. De tão mais.

          Depois de muito tentar, finalmente quebrei as correntes que me faziam refém detrás dos muros de outrem, mas estando agora nessa situação não vejo saída a não ser me fechar de tudo novamente ao redor dos meus muros. Eu realmente não quero lidar com as consequências da destruição que isso pode causar. Mesmo, de repente, podendo não causar. Tantas vezes em situações diversas já me vi nesse tipo de dilema entre arriscar ou não, mas dessa vez é diferente de qualquer outra.

          Daí penso em tudo o que poderia ser e em tudo o que já foi. E não queria pensar. Queria só sentir. Seguir na leveza do jeito que já é e desbravar acompanhado por todos os títulos que esse cinema particular me oferece, ou poderia oferecer. Mas saber se quer ou se consideraria atuar nesse papel me faz reformular a mesma pergunta por oitocentas vezes: quer estrelar esse filme comigo?

          Me libertou tanto que me prendeu e desse castelo não sei sair.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

.tudo o que foi visto não pode ser desvisto.

          Ser adulto é segurar a barra de estar esmagado por dentro e ter que cumprir a maldita carga horária dentro do escritório, mesmo que esteja presente só de corpo. Pelo menos quando preciso resolver as coisas na rua, posso ouvir os conselhos da minha guia alien. Você disse: ''nunca coma o ácido se você não quer ser mudado como você me mudou''. Bom, na noite passada eu, de fato, vi tudo. E talvez por tudo que vi, esse tenha sido o motivo do meu colapso desde então. Tá tudo fora do lugar, principalmente eu. Estranho me perceber assim já que realmente há muito pouco finalmente me entendi e pude ocupar um espaço que até então não reconhecia mas que sempre quis, sem entender exatamente do que se tratava.
          Se resolvo uma questão complexa de tanto tempo para pouco depois deslocar outras lacunas, qual o sentido? Muitas vezes eu percebo que realmente não sei de nada. É chocante como a extraterrestre consegue ser sempre tão certeira. Gostaria muito de um dia atingir esse ponto de percepção e entendimento das coisas. Até lá, tudo o que posso fazer é seguir tentando, acertando pedra por pedra. Solucionando questões só para bagunçar outras em seguida.
          Eu sei que eu tenho esse meu jeito de nem sempre ser tão claro com as coisas ou de deixar as coisas meio subentendidas, meio como enigmas. Por mais que eu tente fazer diferente, volto pra isso porque, na verdade, eu não consigo definir 100% algo que eu sei que tá em constante mudança dentro de mim. E que as pistas e pedaços de mim se espalham por aí, pela minha trajetória nos lugares em que passei e estou. Já faz mais de três anos que por aqui mesmo digo que não sei o que fazer com os meus excessos e que sei que muitas vezes isso acaba por queimar quem está ao meu redor. Mas sei que de lá pra cá já caminhei e, não só evoluí, mas me percebi muito mais. Assim como minhas ações.
          Eu já entendi que quando consigo algo tão bom assim, eu tenho dificuldade de processar isso e de acreditar que eu realmente mereço aquilo, então inconscientemente começo a sabotar das várias maneiras que posso, até que eventualmente seja tarde demais. Espero mais uma vez não ter feito isso.
          O ácido eu não sei, mas a pedra vermelha eu carrego comigo como uma forma de me lembrar do meu lugar no mundo e de que posso, sim, conseguir. Tendo as provas e mostras recentes que tive, tento me segurar a isso quando o redemoinho dentro da minha cabeça me prende bem no meio. Enquanto os olhos ficam semicerrados e o vento corre absurdamente alto e barulhento, escuto as vozes e vejo as silhuetas. Algumas tentam me ajudar, mas as outras tentam me fechar lá dentro. 
          E se a única voz que me tira desse meio decide que não fala mais comigo?

quinta-feira, 2 de março de 2023

Tá tudo certo, sempre esteve

     Eu to ligado que eu dei uma emocionada e romantizei demais as paradas. É que, veja bem, me sentir interessante pra alguém depois de tanto tempo sendo invisível pra um grande amor foi realmente muita informação pra equilibrar, ainda mais vindo de alguém deveras tão interessante e contagiante. Talvez isso tenha feito o timing de 200% certo virar -80% - e tudo bem. Não é como se eu pudesse voltar e talvez fazer algo diferente, mas eu penso também que não sei se HÁ algo diferente a ser feito, já que essa equação é bem mais complexa do que sabemos e eu não vou entrar nessa de trazer pra mim a responsabilidade dessa explosão. Aqui dentro nós sabemos bem que não foi exatamente isso, né? Mas tá tudo bem, tá tudo certo. Sempre esteve.

    Uma coisa que eu definitivamente perdi depois de tanta inércia é o tal do ~game. Não sei fazer tipo, não sei fazer jogo. Sei falar o que penso e sinto, ou não sinto. Isso é ótimo na teoria. ''pessoas reais''. Pessoas reais o caralho. Na prática isso me derrota sempre. Cedo ou tarde, eventualmente. Deve ser por isso que fica aparecendo sempre pra mim o anúncio do livro daquela mulher que te promete mundos e fundos. Que doideira o algorítimo, né?

    Pego mais um café e reflito que é óbvio que depois de tanto tempo de costume e de entrega eu sinta falta. Falta da rotina, falta do carinho, da companhia e de tudo mais que vem na vida a dois e que eu descobri que eu gosto tanto e sou tão bom. Mas entender a falta não quer dizer que eu esteja buscando isso agora novamente. Enquanto penso nisso, a gatinha passa trotando pela sala, se divertindo com um brinquedinho de sacola. A vida é tão simples pra eles, né? Busco essa simplicidade e praticidade pra minha. Quero cada vez mais me conhecer, me curtir, ter experiências. Tento ao máximo mas ainda acho inevitável não fazer o paralelo e dizer que gostaria de voltar a ser como eu era antes, de ter aquele sentimento de liberdade e vontade de descobrir o novo. Talvez isso seja uma ilusão do nosso sabotador projetando algo que realmente nunca existiu, ou então pelo menos não existiu dessa maneira.

    O luto me esmaga de diferentes formas dia após dia. Eu, que sempre amei ficar sozinho e viajar individualmente nas minhas trajetórias e descobertas, me pego cada vez menor e dependente. De alguém, de alguma palavra de afeto, de alguma presença. Uma grande amiga me disse esses dias que o ser humano não foi feito pra estar sozinho, que a vida é sobre isso. Isso me lançou numa espiral bizarra. Primeiro porque já ouvi isso antes, e essa lembrança foi como uma bomba incandescente direto na boca do estômago. Segundo porque acho que ela está certa, e talvez o fato de não conseguir mais sentir esses destravamentos e ter me fechado totalmente eu pense que realmente não sei mais então como agir ou como lidar com boa parte das situações que nos são exigidas socialmente.

    Eu, que sempre fui tão prático, luto diariamente pra me permitir deixar as coisas seguirem fora da minha redoma. Não posso controlar tudo e não devo controlar tudo. Inclusive tem muito mais graça se assim for. Mas esse costume somado a tudo que me levou a ser assim e chegar até aqui, me dá um boost de ansiedade e eu faço o que com isso? Haja café.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

it runs through me

     E que bonita é a explosão de cores na colisão de dois planetas em meio ao universo caótico como é. Naturalmente me vi desempoeirando e revitalizando a nave aposentada, muito bem guardada e protegida floresta adentro. Concedida a devida permissão de Napoleon, o guardião, pude entender que era hora de levantar voo e percorrer o caminho em direção a explosão vista, afim de descobrir o que exatamente pairava por ali. O timing 200% certo.

    Você sabe, depois de um bom tempo se permitir explorar as imensidões do universo pode realmente intimidar. Mas algo nesse sinal de cores amarelas, rosas e verdes me mostra que não dá pra saber o que tem lá, mas os sons da ~vibezinha por todo o caminho sinalizam um trajeto lindo com diversas ramificações; doce porém desafiador. Toda uma ventania que percebo que quero muito sentir no rosto.

    É que eu sempre gostei muito de percorrer as trilhas do universo, sejam por terra, mar ou voando anos luz de onde já estive, do que já fui e escolhi não trazer mais. Realmente me trancar dentro dos muros de proteção envoltos nas grossas raízes espinhosas da floresta musgo não combina comigo, com quem sempre fui. É importante ter um refúgio, mas que não se esqueça o que ele nunca será: lar. Levantar voo e retirar os véus de proteção da cabine de pilotagem para poder enxergar, enfim, um mundo que eu sempre soube que estava lá.


It really Runs Through Me, obrigado.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

365 e um café velho


           Um ano depois, estou aqui de novo. Tomando o café que já havia me esquecido do gosto e de como era bom. Revisitar esses lugares e sabores faz parte de um ritual meio sádico que tenho comigo mesmo e que nunca sei necessariamente o que quer dizer. Provavelmente por sempre querer dizer algo diferente da vez anterior. Nesses 365, se tudo girou tão 360º, ainda não encontrei o motivo pra sentar aqui e pedir a mesma bebida que tanto me fez companhia em outrora. Não é que ela não faça mais, mas não do mesmo jeito. Não a mesma bebida. Não os mesmos ingredientes. Isso certamente deve querer dizer alguma coisa.

          Enquanto fico aqui sentado nessa mesa, saboreando o meu antigo quase amargo companheiro, estranho o imenso vazio desse lugar. Lugar de passagem, cenário de tantos encontros e desencontros. Risadas histéricas, choros compulsivos, palco de boa música ou poesia falida. Completamente deserto. Me faz lembrar o universo paralelo, sobre o qual já escrevi algumas vezes. Mas no lugar de cores musgadas e tons fortes, quase não há cor, não há vida. O conforto deu lugar a um sentimento ruim de nostalgia invertida. Bitucas de cigarro pelos cantos e latas espremidas pelos outros, não parece ter restado mais nada. Levanto-me com minha caneca e ponho-me a caminhar, pensando em como já foi significativo estar aqui. Concluo que não importa com o que se parece hoje ou o que habite aqui nos dias atuais. O meu sentimento permanecerá.

          Nas andanças sou capaz de admitir pra mim mesmo que vim até aqui esperando encontrar um rastro de quem já fui. Ou de quem já fomos. Mas se fomos, faz sentido olhar e ver que nada restou. Entendo que gostaria de voltar. Mas se voltei, percebo que me refiro à tempo e não à espaço. Com um esforço danado pra não pontuar interrogações, ao ouvir outros acabo aprendendo mais sobre mim e consequentemente percebendo que não estou onde achava que estava. Ou gostaria de estar.

          Talvez refazer os passos adiante ajude. Ou faça perceber que não refazer, mas realmente fazer, de fato. Soa um tanto pífio, mas não faço mesmo muita questão. Pode ser que fazendo os passos adiante eu consiga saborear o verdadeiro gosto do meu antigo café em boa companhia, enfim.

sábado, 16 de maio de 2020

Pra ficar de olho: Alice Chater

WONDERLAND (MY NAME IS ALICE)
"Hi, my name is Alice!"

          A música funciona como single de apresentação da nova sensação britânica e é um grande trocadilho com Alice in Wonderland, que a gente tanto ama. A letra é repleta de referências à obra e o vídeo é uma delícia visual com Alice presa numa grande teia de aranha enquanto os predadores estão ao seu redor. A música tem uma introdução bastante dramática, algo que Alice já disse adorar fazer.
          A cantora cresceu apaixonada por ópera e músicas líricas, daí vem o seu grande desenvolvimento vocal nesse estilo. Quando pequena, gostava de imitar os cantores de ópera que sua mãe ouvia: "Logo isso se tornou um truque de festa regular e minha família rapidamente percebeu que eu tinha uma voz muito poderosa", revela. Ela é uma artista multifacetada. Sempre se dedicou a estudar todas as artes cênicas. Aprendeu balé, jazz, sapateado, hip hop, flamenco, aros e acrobacias aéreas, bem como canto. Além de co-produzir suas canções, ela ainda as compõe. Natural de Kent, Reino Unido, ela assinou um contrato de gravação com a Virgin EMI Records, depois de receber propostas de cinco gravadoras. Tudo começou quando foi descoberta pelo produtor e cantor Will.I.Am, que atuou como uma espécie de mentor para ela. Ela gravou algumas músicas no estúdio dele, conheceu vários produtores e hoje tem um contrato firme com o primeiro álbum no forno.
          Além de Will, Alice conta com o apoio de veículos importantes como a BBC Radio 1, que fez do seu single Heartbreak Hotel, em 2018, a faixa de apresentação da semana e deu um grande destaque para Girls X Boys em sua estréia como Melhor Novo Pop.

HOURGLASS

          Meu fascínio por Alice se deu com o clipe do single "Hourglass". Durante uma tarde qualquer, ouvindo uma playlist no youtube, a música começou a rolar de fundo. Sempre que acabava, eu voltava pra deixar tocando enquanto fazia minhas coisas porque tinha curtido a sonoridade. Até uma hora em que pensei ''Caramba, essa música é boa mesmo. Deixa parar aqui e assistir esse clipe.''.
O clipe, feito em plano-sequência, segue impecável em um só take enquanto temos Alice andando por um galpão enquanto dança e interage com os objetos ao redor. Uma curiosidade muito interessante sobre esse plano é que em alguns momentos o video se passa em câmera lenta e, depois de voltar ao ritmo normal, continua perfeitamente sincronizado com a música enquanto ela canta. O grito de Alice, enquanto quebra um globo e gira pendurada num bambolê é o ponto alto.
          Uma curiosidade sobre Hourglass é que tem sample da música "Don't You Want Me", do The Human League.

HEARTBREAK HOTEL


          O hotel dos corações partidos de Alice tem muitos cenários, coreografias e looks. Na produção assinada por Chris Turmer (mesmo diretor de Hourglass), a artista reúne o melhor da música pop, combinado com um sample da antiga "Ring My Bell", de Anita Ward. Também com uma introdução dramática, além de um break especialmente pro vídeo, o clipe mostra um pouco mais do que o universo artístico de Alice pode nos proporcionar. Além de começar a estabelecer referências e elementos em comum com os outros vídeos, partes do conceito de criação da imagem dela.


          O primeiro vídeo oficialmente lançado por Alice, Girls X Boys é o mais sensual deles. O vídeo tem enfoque na dança de maneira crua e sensual, pura sedução e libertação. A estética e o jogo de luzes são muito bons e nos rementem ao pop da época de ouro onde tínhamos Britney e Christina no ápice da sensualidade.
          O legal é que cada um dos vídeos de Alice trazem uma característica diferente dela. Thief conta com os giros, saltos e piruetas que ela sempre coloca nas coreografias das músicas. Tonight traz a temática de bruxas, com alguns dos elementos utilizados em outros vídeos e traz cenas muito bem dirigidas, como o vestido composto pelas dançarinas.
          Em 2019, ela engatou uma parceria com Iggy Azalea, de quem acabou ficando amiga. A parceria ajudou muito na projeção internacional de Alice e segue fazendo com que cada vez mais pessoas descubram sua música e passem a acompanhá-la.
          Lola tem uma identidade visual incrível. Alta produção dirigida por Thom Kerr, o vídeo mostra duas internas de um hospício e seus delírios de forma bastante colorida e criativa. O vídeo traz muitos figurinos e muita produção em cada cenário. Alice pôde mostrar muito dos seus vocais e o single ganhou até performance no International Music Awards, na Alemanha (a primeira apresentação de Alice em um Award).
          O álbum, inicialmente previsto para esse ano, pode sofrer algum atraso devido a pandemia, mas Alice tem material pronto e um novo clipe, gravado pouco antes da quarentena. já está finalizado.
LOLA
         

          Pra fechar, Chater respondeu uma pergunta sobre seu processo criativo pros clipes e música.



Baú: Você mesma já disse algumas vezes que é a rainha das introduções dramáticas. O que te inspira criativamente pra criar as introduções e os conceitos visuais dos seus clipes?

Alice: A sensação da música. Começa sempre com a forma como a música me faz sentir... então minha imaginação simplesmente corre solta. Sonhos também... Às vezes eu sonho coisas realmente estranhas.